sábado, 10 de outubro de 2009

O "pior" cego é aquele que quer ver

O ditado popular não é bem assim, mas serve como base para estes aforismos. Afinal, toda sabedoria – mesmo a popularesca – pode alavancar alguma evolução do pensamento.
A cegueira tem sido, através dos tempos, a melhor metáfora para todo tipo de ignorância, obscurantismo, fanatismo ou ira. Perdoem a maldade, mas o cego nem vê o quanto a imagem dele está sendo usada, em tantas comparações negativas...
O título destas linhas quer referir-se aos cegos de verdade, os que literalmente não enxergam um palmo diante do nariz. Esses, sim, são os que resolvem ser “melhores” ou “piores”, na inusitada lógica da minha argumentação.
O caso é que, rotulados como deficientes, homens e mulheres cegos sempre acabam sofrendo algum tipo de pressão para que sejam conformados, passivos diante da sua condição de não videntes. Para que um subversivo desejo de enxergar o mundo e as coisas não os libere da tutela, do jugo dos que podem ver.
Então, na nossa antropofobia, cegos têm de ficar na escuridão, surdos têm de se abster dos sons, paralisados têm de restar imóveis, exato onde os deixamos. E assim rasteja a humanidade.
Só que o ser humano é feito para superar-se, talvez por força de um inconformismo de sobrevivência. E essa mola propulsora não equipa somente os aptos, os atletas, os heróis de saúde. Mas, incorpora a fibra de todas os que se consideram maiores que seus problemas.
O “pior” cego é, na verdade, aquele que quer ver onde, como e porque. É o que deseja saber de seu lugar na casa, no mundo, na sociedade. É o que anseia por ser produtivo, respeitado, acolhido e amado. É aquele cuja história se faz por si, não por decisão alheia. Enfim, é a pessoa que, não por ser cega dos olhos, busca enxergar mais longe para vislumbrar melhor os rumos humanos.

J. Olímpio

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