Nestes tempos de súbitas constatações, tanto no universo da Ciência quanto da inclusão social, vemos que as pesquisas por soluções terapêuticas e curativas obedecem - muitas vezes - a razões bem menos nobres. Norteados por interesses corporativos, os esforços científicos acabam se submetendo ao mercado e jogando sua função humanitária para segundo ou terceiro planos.
A trajetória da Póliomielite, no século XX, é um modelo para essa argumentação. Após décadas de espalhamento indiscriminado pelo planeta, atingindo a todas as classes sociais, os cientistas Falk e Sabin quebraram o enigma diante da doença e anunciaram seu banimento condicionado à vacinação em massa.
O advento da vacina, porém, não significou a vitória completa. Albert Sabin, pai da vacina mais eficiente, precisou dispender muito dos seus derradeiros anos de vida correndo o mundo e mobilizando governos resistentes à profilaxia.
Por outro lado, a Medicina também adotou caminhos hoje tidos como quase equivocados, diante da Pólio. Ao mantê-la sob a tutela da Ortopedia, desdenhou sua pertença à Neurologia e retardou as possibilidades de uma oportuna revisão dos métodos de tratamento.
A aceitação forçosa - pelos médicos - da realidade da Síndrome Pós-Póliomielite, cujas evidências só recentissimamente foram levadas à sério, trouxe à luz a grave conclusão de que, por terem sido reduzidos e "inutilizados" por uma reabilitação desgastante ao extremo, os sequelados adquiriram novos e importantes problemas.
Em pleno século XXI, tempo de conquistas científicas surpreendentes, a AIDS já tem um horizonte bem promissor de dispor de uma vacina eficiente, em relativo pouco tempo. Porém, doenças como a malária, a de Chagas e a própria Pólio (mesmo já dispondo da vacina há décadas), ainda restam como flagelos bem ativos.
Outro detalhe gritante: a retirada da Póliomielite dos currículos dos cursos de Medicina, no Brasil; que já foi um dos recordistas da incidência. Além do hiato acadêmico causado aos futuros médicos, isso trará um despreparo crônico no diagnóstico de novos surtos.
A cidadania plena também passa pelo acesso à saúde. Já o cidadão com menos saúde, feito os atingidos pela Pólio e pela Síndrome, precisam de garantias bem mais sólidas de que verão sua qualidade de vida apoiada por governos e entidades dedicados a mantê-la. E, de preferência, sem concessões econômicas a grupos corporativos. Por isso associações como a nossa não podem tornar-se, em hipótese alguma, trampolins de promoção pessoal, nem guetos de ressentimento e reclusão.
Potencializar as energias - a exemplo dos conselhos dirigidos a quem tem a Síndrome - e usar de todos os canais válidos para mobilizar a sociedade. Essa parece ser a saída para re-despertar as fontes que podem - e muito bem! - reverter o quadro terapêutico e social que se abate sobre o tema. A internet, a imprensa, a política e a conscientização interpessoal são nossos caminhos para isso. As artes e os meios audiovisuais se mostram, por extensão, poderosas ferramentas para inserir o assunto ludicamente no imaginário popular.
O mais importante, contudo, é realizar um trabalho duradouro, efetivo, para que os ventos não levem discursos vazios para bem longe do nosso objetivo.
J. Olímpio
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