Amigos ao redor do mundo.
Começar um novo ano, este 2010 tão feérico, faz pensar no enigma que é o tempo. Sua passagem inexorável, incessante e ritmada. Seu compasso impiedoso e, ao mesmo tempo, justíssimo... Nem os sábios mais brilhantes já souberam como pará-lo, interrompê-lo, enganá-lo!
E nós, simples mortais aprisionados pela cadeia temporal, seguimos essa trajetória incessante através do nosso tempo; aquele que cabe a cada indivíduo vivente neste planeta.
Aprisionados, sim, mas nunca imobilizados pelo tempo ou por qualquer outra condição universal que venha a se nos impor! Mesmo as maiores limitações, sejam físicas, financeiras ou sociais, jamais serão suficientes para paralizar o espírito humano. Nascida para superar-se, a criatura humana arremete rumo ao desconhecido e, invariavelmente, marca sua presença no universo. Por caminhos muitas vezes ainda inexistentes, o homem vem traçando seus destinos mais radicais com a mesma coragem que assinala os milênios de sua sobrevivência.
Sim, cometemos erros descomunais, violentamos a Terra e seu equilíbrio perfeito, subvertemos os ciclos naturais e emporcalhamos nossa própria casa-planeta. Mas, também é verdade que estamos conscientes de nossas faltas, de tantas barbaridades cometidas contra toda a vida existente no mundo e contra os nossos próprios semelhantes. Somos solidários por excelência, no sentido de pagarmos juntos pelos pecados dos poderosos.
E é essa mesma consciência que deverá salvar-nos, que nos redimirá junto às gerações, que perpetuará nossa espécie em harmonia com as demais. E seremos vencedores completos na esperança, sobre as barreiras todas e sobre o próprio tempo; que não é senhor mas é nosso parâmetro evolutivo.
Feliz 2010, 2011, 2012...!
J. Olímpio
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
terça-feira, 20 de outubro de 2009
O passado nos condena?...
Relembrando momentos de reabilitação, na minha infância após a Pólio, vejo bem claro o quando se jogava sobre os pacientes a responsabilidade sobre o sucesso ou não da batalha. Médicos, na sua totalidade ortopedistas, davam-se por muito satisfeitos em fazer intervenções cirúrgicas (nem sempre) bem-sucedidas e, depois, largavam nas mãos de sequelados e seus famíliares o "enigma" de novas situações posturais; para que se transformassem magicamente em movimento, em aptidão.
Passei por 13 intervenções corretivas, em meia dúzia de internamentos hospitalares. Cheguei a ficar períodos de até seis meses imobilizado na cama; passei anos tentando trocar passos pela casa, literalmente pendurado em muletas inseguras e andadores crucificantes. Não me arrependo de nada, eu e minha família tentamos TODAS as possibilidades; só desistimos de me fazer andar sozinho quando minha coluna, que já estava artrodesada, começou a assumir uma postura sem equilíbrio possível.
Tive médicos maravilhosos, também caí nas mãos de malucos de jaleco branco. Os primeiros fizeram proezas curativas, os outros por poucos não me mutilaram. Acho que a arte de tratar bem a um paciente está diretamente ligada à capacidade do ouvir às suas demandas, nunca passa pela imposição de terapias ou procedimentos impostos. Poucos foram os médicos que discutiram os tratamentos que sofri. Felizmente, foram eles que fizeram os melhores trabalhos comigo.
Hoje, quando a informação nos esclarece os dramas que vivemos, com as decorrências da Pólio reconhecidas como síndrome, podemos até nos sentir como sobreviventes de uma era obscura, bárbara mesmo. Podemos considerar que sofremos tratamentos medievais e inócuos, que fomos sacrificados em testes impiedosos, que fomos dissecados vivos em nome de alguma descoberta que nunca veio. Tudo isso é desesperador.
Prefiro pensar que somos pessoas que aprenderam muito com o sofrimento, da ignorância à dor física, da restrição da liberdade à privação de muitas regalias. Prefiro considerar aquele tempo um período que forjou a minha fibra, que moldou meu senso de responsabilidade, que gravou à fogo o meu código de honra. Porque quem honra seu sofrimento com vitórias, por menores que elas sejam, não coleciona derrotas que matam.
J. Olímpio
Passei por 13 intervenções corretivas, em meia dúzia de internamentos hospitalares. Cheguei a ficar períodos de até seis meses imobilizado na cama; passei anos tentando trocar passos pela casa, literalmente pendurado em muletas inseguras e andadores crucificantes. Não me arrependo de nada, eu e minha família tentamos TODAS as possibilidades; só desistimos de me fazer andar sozinho quando minha coluna, que já estava artrodesada, começou a assumir uma postura sem equilíbrio possível.
Tive médicos maravilhosos, também caí nas mãos de malucos de jaleco branco. Os primeiros fizeram proezas curativas, os outros por poucos não me mutilaram. Acho que a arte de tratar bem a um paciente está diretamente ligada à capacidade do ouvir às suas demandas, nunca passa pela imposição de terapias ou procedimentos impostos. Poucos foram os médicos que discutiram os tratamentos que sofri. Felizmente, foram eles que fizeram os melhores trabalhos comigo.
Hoje, quando a informação nos esclarece os dramas que vivemos, com as decorrências da Pólio reconhecidas como síndrome, podemos até nos sentir como sobreviventes de uma era obscura, bárbara mesmo. Podemos considerar que sofremos tratamentos medievais e inócuos, que fomos sacrificados em testes impiedosos, que fomos dissecados vivos em nome de alguma descoberta que nunca veio. Tudo isso é desesperador.
Prefiro pensar que somos pessoas que aprenderam muito com o sofrimento, da ignorância à dor física, da restrição da liberdade à privação de muitas regalias. Prefiro considerar aquele tempo um período que forjou a minha fibra, que moldou meu senso de responsabilidade, que gravou à fogo o meu código de honra. Porque quem honra seu sofrimento com vitórias, por menores que elas sejam, não coleciona derrotas que matam.
J. Olímpio
domingo, 18 de outubro de 2009
A FOME E O LUCRO
Neocolonialismo, anotem este novo e perverso nicho de mercado. Oportunizado pela miséria crescente e patrocinado por governos em desmanche ético. Começou pela África e, se bobear, atingirá muitas áreas do chamado Terceiro Mundo.
A fome que campeia pelos países empobrecidos do norte africano desencadeou o processo, corporações transnacionais deram a partida para um perigosíssimo jogo de reaquisição desses territórios outrora dominados oficialmente por nações européias. No atual contexto econômico, os dominadores e os métodos são outros mas, na prática, os efeitos são até piores do que o sistema das antigas colônias.
Nessa nova onda de dominação, a China, a Coréia do Sul e a África do Sul são os campeões nessa modalidade, adquirindo imensas quantidades de terras no Congo e em outras nações que passam por crises econômicas extremas, já sem recuperação de suas finanças. E mais: que já perderam o alcance do estado nas regiões mais afetadas pela fome, pelo descontrole sanitário e pela inoperância administrativa.
A dinâmica é desigual e leonina. Os trustes compram enormes áreas à baixíssimo custo, comprometendo-se em dar contrapartidas mínimas, que pouco ou nada beneficiam às populações locais. Emprego, moradia, alimento e saúde aparecem mais como chamarizes num quadro de intensa exploração das riquezas e do potencial econômico desses sítios. São territórios extensos, literalmente abandonados, mas de infindáveis possibilidades lucrativas, quando adequadamente tratados.
Apesar de não se criar uma extraterritorialidade, essas áreas acabam sendo literalmente governadas por entidades sem nenhuma autoridade legitimamente constituída e, portanto, totalmente descompromissadas com o espírito público. Ao contrário, são comprometidas unicamente com o lucro.
Mais do que um simples questionamento acadêmico, o fato requer uma profunda reflexão sobre o desmedido valor que se dá à lucratividade da operação desses feudos encravados em países soberanos. Em função de mega-negociatas e em detrimento das populações, governantes em descompasso com suas atribuições negociam a própria dignidade nacional e condenam comunidades inteiras a uma escravidão compulsória, totalmente descabida diante dos direitos humanos.
A continuidade desse processo cria precedentes planetários e pode, facilmente, gerar modelos semelhantes em outras regiões carentes. Em 1970, o bilionário Daniel Ludwig inoculou o mesmo tipo de veneno nas mentes dos militares que então dominavam o estado brasileiro: criou na Amazônia o famigerado projeto Jarí. Sob a miragem de uma indústria de celulose, erigiu-se um império depredatório da natureza e um ambiente onde as condições de trabalho e sobrevivência eram desumanas. O monstro consumiu-se a si mesmo, por obra e graça da própria ação da floresta. Mas foi nefasto.
Cuidar da vida na Terra também é banir do convívio internacional essas relações espúrias entre o sofrimento humano e o lucro. Mais do que qualquer outra vã justificativa, há que se respeitar o muito que nos separa da bestialidade que sobeja na exploração do homem por seu semelhante.
J. Olímpio
A fome que campeia pelos países empobrecidos do norte africano desencadeou o processo, corporações transnacionais deram a partida para um perigosíssimo jogo de reaquisição desses territórios outrora dominados oficialmente por nações européias. No atual contexto econômico, os dominadores e os métodos são outros mas, na prática, os efeitos são até piores do que o sistema das antigas colônias.
Nessa nova onda de dominação, a China, a Coréia do Sul e a África do Sul são os campeões nessa modalidade, adquirindo imensas quantidades de terras no Congo e em outras nações que passam por crises econômicas extremas, já sem recuperação de suas finanças. E mais: que já perderam o alcance do estado nas regiões mais afetadas pela fome, pelo descontrole sanitário e pela inoperância administrativa.
A dinâmica é desigual e leonina. Os trustes compram enormes áreas à baixíssimo custo, comprometendo-se em dar contrapartidas mínimas, que pouco ou nada beneficiam às populações locais. Emprego, moradia, alimento e saúde aparecem mais como chamarizes num quadro de intensa exploração das riquezas e do potencial econômico desses sítios. São territórios extensos, literalmente abandonados, mas de infindáveis possibilidades lucrativas, quando adequadamente tratados.
Apesar de não se criar uma extraterritorialidade, essas áreas acabam sendo literalmente governadas por entidades sem nenhuma autoridade legitimamente constituída e, portanto, totalmente descompromissadas com o espírito público. Ao contrário, são comprometidas unicamente com o lucro.
Mais do que um simples questionamento acadêmico, o fato requer uma profunda reflexão sobre o desmedido valor que se dá à lucratividade da operação desses feudos encravados em países soberanos. Em função de mega-negociatas e em detrimento das populações, governantes em descompasso com suas atribuições negociam a própria dignidade nacional e condenam comunidades inteiras a uma escravidão compulsória, totalmente descabida diante dos direitos humanos.
A continuidade desse processo cria precedentes planetários e pode, facilmente, gerar modelos semelhantes em outras regiões carentes. Em 1970, o bilionário Daniel Ludwig inoculou o mesmo tipo de veneno nas mentes dos militares que então dominavam o estado brasileiro: criou na Amazônia o famigerado projeto Jarí. Sob a miragem de uma indústria de celulose, erigiu-se um império depredatório da natureza e um ambiente onde as condições de trabalho e sobrevivência eram desumanas. O monstro consumiu-se a si mesmo, por obra e graça da própria ação da floresta. Mas foi nefasto.
Cuidar da vida na Terra também é banir do convívio internacional essas relações espúrias entre o sofrimento humano e o lucro. Mais do que qualquer outra vã justificativa, há que se respeitar o muito que nos separa da bestialidade que sobeja na exploração do homem por seu semelhante.
J. Olímpio
sábado, 10 de outubro de 2009
O "pior" cego é aquele que quer ver
O ditado popular não é bem assim, mas serve como base para estes aforismos. Afinal, toda sabedoria – mesmo a popularesca – pode alavancar alguma evolução do pensamento.
A cegueira tem sido, através dos tempos, a melhor metáfora para todo tipo de ignorância, obscurantismo, fanatismo ou ira. Perdoem a maldade, mas o cego nem vê o quanto a imagem dele está sendo usada, em tantas comparações negativas...
O título destas linhas quer referir-se aos cegos de verdade, os que literalmente não enxergam um palmo diante do nariz. Esses, sim, são os que resolvem ser “melhores” ou “piores”, na inusitada lógica da minha argumentação.
O caso é que, rotulados como deficientes, homens e mulheres cegos sempre acabam sofrendo algum tipo de pressão para que sejam conformados, passivos diante da sua condição de não videntes. Para que um subversivo desejo de enxergar o mundo e as coisas não os libere da tutela, do jugo dos que podem ver.
Então, na nossa antropofobia, cegos têm de ficar na escuridão, surdos têm de se abster dos sons, paralisados têm de restar imóveis, exato onde os deixamos. E assim rasteja a humanidade.
Só que o ser humano é feito para superar-se, talvez por força de um inconformismo de sobrevivência. E essa mola propulsora não equipa somente os aptos, os atletas, os heróis de saúde. Mas, incorpora a fibra de todas os que se consideram maiores que seus problemas.
O “pior” cego é, na verdade, aquele que quer ver onde, como e porque. É o que deseja saber de seu lugar na casa, no mundo, na sociedade. É o que anseia por ser produtivo, respeitado, acolhido e amado. É aquele cuja história se faz por si, não por decisão alheia. Enfim, é a pessoa que, não por ser cega dos olhos, busca enxergar mais longe para vislumbrar melhor os rumos humanos.
J. Olímpio
A cegueira tem sido, através dos tempos, a melhor metáfora para todo tipo de ignorância, obscurantismo, fanatismo ou ira. Perdoem a maldade, mas o cego nem vê o quanto a imagem dele está sendo usada, em tantas comparações negativas...
O título destas linhas quer referir-se aos cegos de verdade, os que literalmente não enxergam um palmo diante do nariz. Esses, sim, são os que resolvem ser “melhores” ou “piores”, na inusitada lógica da minha argumentação.
O caso é que, rotulados como deficientes, homens e mulheres cegos sempre acabam sofrendo algum tipo de pressão para que sejam conformados, passivos diante da sua condição de não videntes. Para que um subversivo desejo de enxergar o mundo e as coisas não os libere da tutela, do jugo dos que podem ver.
Então, na nossa antropofobia, cegos têm de ficar na escuridão, surdos têm de se abster dos sons, paralisados têm de restar imóveis, exato onde os deixamos. E assim rasteja a humanidade.
Só que o ser humano é feito para superar-se, talvez por força de um inconformismo de sobrevivência. E essa mola propulsora não equipa somente os aptos, os atletas, os heróis de saúde. Mas, incorpora a fibra de todas os que se consideram maiores que seus problemas.
O “pior” cego é, na verdade, aquele que quer ver onde, como e porque. É o que deseja saber de seu lugar na casa, no mundo, na sociedade. É o que anseia por ser produtivo, respeitado, acolhido e amado. É aquele cuja história se faz por si, não por decisão alheia. Enfim, é a pessoa que, não por ser cega dos olhos, busca enxergar mais longe para vislumbrar melhor os rumos humanos.
J. Olímpio
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
plataformas elevatórias...
No início deste ano, visitei o Museu Oscar Niemeyer (Curitiba - PR, Brasil). Tive de percorrer todas as suas instalações numa avaliação técnica para um guia turístico voltado a pessoas com deficiência.
Chegando ao famoso "olho", um anexo com arrojado desenho arquitetônico, tive de usar uma plataforma elevatória para vencer a escadaria que a ele dá acesso. A tal plataforma, acoplada à parede lateral da escadaria, certamente foi feita por empresa especializada e deve ter custado bem caro aos cofres públicos. Mesmo assim, ela rangia e tremia, parecia um teleférico de montanha...
Domingo passado, fui conhecer um protótipo de plataforma elevatória "feito em casa", por meu grande amigo Fabiano de Castro; um daqueles gênios dignos de figurar entre os inventores mais brilhantes. O testdrive foi surpreendente, tanto no desempenho do equipamento quanto na qualidade e no acabamento visual do produto. Fabiano soube, inclusive, incorporar novidades preciosas ao seu modelo, como escamoteios automatizados, amortecedores de arranque e chegada, parada de emergência etc. Tudo dentro das mais rígidas normas de segurança e acessibilidade.
O objetivo deste texto não é anunciar o equipamento de Fabiano, nem se trata de bajular sua genialidade. Em sua bem montada oficina particular, ele desenvolveu e construiu algo mais eficiente do que o similar disponível no mercado.
A ideia é mostrar o quanto a sociedade ainda relega a condição humana da deficiência a planos inferiores, a níveis de menos valia, quando se trata de produzir e viabilizar máquinas e acessórios para a área. Já notaram como as armas têm sido, ao longo da história, objeto dos maiores empenhos e avanços tecnológicos?... Isso só prova que a humanidade ainda não se respeita como tal, que a semelhança humana ainda não é paradigma diante do lucro e da exploração comerciais.
Fabiano busca, agora, a homologação de sua plataforma junto aos órgãos de fiscalização. Sem ela, não poderá instalar sua plataforma na instituição de ensino que a encomendou dele. Sem essa aprovação, também não poderá construir e / ou comercializar outras máquinas de ajudar gente a vencer obstáculos. Um paradoxo na trajetória de alguém disposto a emprestar sua competência e seu desprendimento à inclusão social através da acessibilidade.
Finalizando: governos, instituições e comunidades precisam ficar atentos a essas iniciativas, para que se acelere a conscientização produtiva do conceito ACESSÍVEL. E nós, os sequelados de pólio, limitados fisicamente que somos, temos de estar sempre prontos a aplaudir soluções que contribuam para a superação das inúmeras barreiras das cidades mal aparelhadas.
J. Olímpio
Chegando ao famoso "olho", um anexo com arrojado desenho arquitetônico, tive de usar uma plataforma elevatória para vencer a escadaria que a ele dá acesso. A tal plataforma, acoplada à parede lateral da escadaria, certamente foi feita por empresa especializada e deve ter custado bem caro aos cofres públicos. Mesmo assim, ela rangia e tremia, parecia um teleférico de montanha...
Domingo passado, fui conhecer um protótipo de plataforma elevatória "feito em casa", por meu grande amigo Fabiano de Castro; um daqueles gênios dignos de figurar entre os inventores mais brilhantes. O testdrive foi surpreendente, tanto no desempenho do equipamento quanto na qualidade e no acabamento visual do produto. Fabiano soube, inclusive, incorporar novidades preciosas ao seu modelo, como escamoteios automatizados, amortecedores de arranque e chegada, parada de emergência etc. Tudo dentro das mais rígidas normas de segurança e acessibilidade.
O objetivo deste texto não é anunciar o equipamento de Fabiano, nem se trata de bajular sua genialidade. Em sua bem montada oficina particular, ele desenvolveu e construiu algo mais eficiente do que o similar disponível no mercado.
A ideia é mostrar o quanto a sociedade ainda relega a condição humana da deficiência a planos inferiores, a níveis de menos valia, quando se trata de produzir e viabilizar máquinas e acessórios para a área. Já notaram como as armas têm sido, ao longo da história, objeto dos maiores empenhos e avanços tecnológicos?... Isso só prova que a humanidade ainda não se respeita como tal, que a semelhança humana ainda não é paradigma diante do lucro e da exploração comerciais.
Fabiano busca, agora, a homologação de sua plataforma junto aos órgãos de fiscalização. Sem ela, não poderá instalar sua plataforma na instituição de ensino que a encomendou dele. Sem essa aprovação, também não poderá construir e / ou comercializar outras máquinas de ajudar gente a vencer obstáculos. Um paradoxo na trajetória de alguém disposto a emprestar sua competência e seu desprendimento à inclusão social através da acessibilidade.
Finalizando: governos, instituições e comunidades precisam ficar atentos a essas iniciativas, para que se acelere a conscientização produtiva do conceito ACESSÍVEL. E nós, os sequelados de pólio, limitados fisicamente que somos, temos de estar sempre prontos a aplaudir soluções que contribuam para a superação das inúmeras barreiras das cidades mal aparelhadas.
J. Olímpio
domingo, 27 de setembro de 2009
Domingo GLTB
Hoje, aconteceu em Curitiba - PR (Brasil) a Parada da Diversidade GLTB. Mais de 120 mil homossexuais, lésbicas, transexuais e bissexuais - mais os simpatizantes, claro! - desfilaram sua empolgação e seu orgulho por ruas centrais da cidade; desta vez protestando contra a homofobia.
Certa vez, numa conversa informal, brinquei que o paroxismo de minoria social deveria ser uma pessoa deficiente, negra, obesa, homossexual e careca! Eu mesmo sou deficiente físico e careca, já estou a caminho de pertencer a essa "minoria"...
Ao ver as fotos da Parada GLTB, porém, tive uma súbita iluminação. Nunca gostei muito de manifestações públicas, de passeatas e protestos. Sempre achei bastante perigosas, no sentido de poderem desencadear reações violentas. Por outro lado, as passeatas e quetais têm efeitos (desculpem a obviedade) PASSAGEIROS. Cadeirantes, cegos, surdos e sindrômicos, todos reinvindicando o fim do preconceito e o começo de uma nova consciência inclusiva. Todos olham, até aplaudem e... E é só!
Nossa vocação cidadã nos impulsiona a algo mais efetivo, durável, permanente. Não desprezo a Parada, só penso que a luta por fora dela seja mais vitoriosa. Não nego o efeito "chocante" da exposição das tribos, só tenho certeza de que o dia-a-dia expõe bem melhor os dramas de todos e cada um. Não desmereço quem promove esses eventos, mas reservo um elogio especial a quem promove as pessoas sem alarde.
Todos nós sabemos a dor e a delícia de ser o que somos. Cada um de nós merece o melhor que a vida pode nos oferecer. Saber sacar isso da sociedade, sem usurpar os direitos alheios é o ideal democrático. E esse ideal não se conquista num só dia, com festa e euforia. Mas na batalha diária dos que não se permitem desistir.
J. Olímpio
Certa vez, numa conversa informal, brinquei que o paroxismo de minoria social deveria ser uma pessoa deficiente, negra, obesa, homossexual e careca! Eu mesmo sou deficiente físico e careca, já estou a caminho de pertencer a essa "minoria"...
Ao ver as fotos da Parada GLTB, porém, tive uma súbita iluminação. Nunca gostei muito de manifestações públicas, de passeatas e protestos. Sempre achei bastante perigosas, no sentido de poderem desencadear reações violentas. Por outro lado, as passeatas e quetais têm efeitos (desculpem a obviedade) PASSAGEIROS. Cadeirantes, cegos, surdos e sindrômicos, todos reinvindicando o fim do preconceito e o começo de uma nova consciência inclusiva. Todos olham, até aplaudem e... E é só!
Nossa vocação cidadã nos impulsiona a algo mais efetivo, durável, permanente. Não desprezo a Parada, só penso que a luta por fora dela seja mais vitoriosa. Não nego o efeito "chocante" da exposição das tribos, só tenho certeza de que o dia-a-dia expõe bem melhor os dramas de todos e cada um. Não desmereço quem promove esses eventos, mas reservo um elogio especial a quem promove as pessoas sem alarde.
Todos nós sabemos a dor e a delícia de ser o que somos. Cada um de nós merece o melhor que a vida pode nos oferecer. Saber sacar isso da sociedade, sem usurpar os direitos alheios é o ideal democrático. E esse ideal não se conquista num só dia, com festa e euforia. Mas na batalha diária dos que não se permitem desistir.
J. Olímpio
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Estado do Paraná ultrapassa meta na vacinação
19/09/09 às 11:14 | Redação Bem Paraná
Meta é imunizar 123 mil crianças em Curitiba. A meta da Secretaria de Saúde do Paraná é imunizar hoje (19/09), na segunda etapa da Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite, 775.650 crianças, o que representam 100% do público alvo. De acordo com a Secretaria de Saúde, na primeira etapa da campanha deste ano, realizada em 20 de junho, o Paraná obteve um índice de cobertura vacinal de 96,95%, sendo o primeiro estado do país a atingir meta preconizada pelo Ministério da Saúde, de 95%.
O secretário da Saúde, Gilberto Martin, está convocando pais e responsáveis a levar as crianças, com menos 5 anos, a um dos cerca de 8 mil postos de vacinação, que estarão à disposição da população das 8 às 17 horas, em todo o estado. Estão trabalhando na campanha aproximadamente 12,5 mil pessoas. O Paraná recebeu do Ministério da Saúde 1,5 milhão de doses.
O Paraná participa das campanhas de vacinação desde 1980, quando o ministério iniciou a mobilização de combate poliomielite. Dados da secretaria mostram que nos últimos anos, em particular entre 2003 e 2008, as médias de coberturas vacinais nas duas etapas variaram entre 100% e 95%. Em 2008, o Paraná vacinou 100% das crianças na primeira etapa e mais de 97% na segunda.
Meta é imunizar 123 mil crianças em Curitiba. A meta da Secretaria de Saúde do Paraná é imunizar hoje (19/09), na segunda etapa da Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite, 775.650 crianças, o que representam 100% do público alvo. De acordo com a Secretaria de Saúde, na primeira etapa da campanha deste ano, realizada em 20 de junho, o Paraná obteve um índice de cobertura vacinal de 96,95%, sendo o primeiro estado do país a atingir meta preconizada pelo Ministério da Saúde, de 95%.
O secretário da Saúde, Gilberto Martin, está convocando pais e responsáveis a levar as crianças, com menos 5 anos, a um dos cerca de 8 mil postos de vacinação, que estarão à disposição da população das 8 às 17 horas, em todo o estado. Estão trabalhando na campanha aproximadamente 12,5 mil pessoas. O Paraná recebeu do Ministério da Saúde 1,5 milhão de doses.
O Paraná participa das campanhas de vacinação desde 1980, quando o ministério iniciou a mobilização de combate poliomielite. Dados da secretaria mostram que nos últimos anos, em particular entre 2003 e 2008, as médias de coberturas vacinais nas duas etapas variaram entre 100% e 95%. Em 2008, o Paraná vacinou 100% das crianças na primeira etapa e mais de 97% na segunda.
sábado, 19 de setembro de 2009
Dia de vacina

A Família Zé Gotinha, bonecos-símbolos das campanhas de vacinação anti-pólio, a partir da década de 1980.
Uma vez mais, o Brasil realiza, neste dia 19 de setembro, um dia nacional de vacinação contra a Póliomielite. Importantíssimo, infaltável, mas sem o mesmo impacto que as mídias imprimiam na comunidade, até pouco tempo atrás. Hoje, mesmo sendo divulgados na grande imprensa, essas campanhas nacionais prescindem da ressonância que obtinham, talvez por falta de um maior empenho de marketing social.
Sem a presença do Zé Gotinha, boneco-símbolo criado para essas campanhas a partir da década de 1980, parece que o fantasma da Pólio - assustador e nada amigável, bem diverso da família Zé Gotinha - tem mais chances de reaparecer no Brasil. Isso porque, sem o apelo de antes, as campanhas têm conseguido imunizar cada vez menos crianças de 0 a 5 anos de idade.
Alarmista, eu?... Não, já que as recentes estatísticas da OMS mostram a escalada até então incontrolável dos póliovírus, na África e em outras áreas do planeta. Nesses quadrantes, guerras territoriais, disputas políticas e fanatismo religioso têm colocado a vacina fora do alcance dessas populações. Somem-se a isso condições de miséria e desnutrição crônicas, para termos um quadro alarmante de disseminação da doença.
O mundo precisa patrulhar e conter o novo e terrível avanço da Póliomielite. Junto com as mortes e as sequelas permanentes, mais os efeitos tardios da Síndrome Pós-Pólio, a humanidade corre o risco de ver cepas mutantes dos vírus solapando os esforços profiláticos até hoje realizados. Pouco ou nada adiantariam as campanhas de vacinação em massa, como as do Brasil, se novos vírus se espalhassem pelo País.
Portanto, precisamos cobrar - do Governo e da sociedade - a manutenção das campanhas e a frequência massiva aos postos de vacinação. Manter as crianças do Brasil livres da Pólio já terá sido um bom começo, na erradicação desse mal do planeta.
J. Olímpio
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
A Justiça cega.
Toma posse, hoje em Curitiba, com o prestígio presencial do Presidente da República à cerimônia, o primeiro desembargador cego da história do Judiciário brasileiro. Escolhido numa lista tríplice pelo Pres. Luiz Inácio Lula da Silva, Ricardo Tadeu Marques Fonseca tem 50 anos de idade e é um dos inúmeros sequelados de Paralisia Cerebral no País.
Ninguém pode negar a tremenda vitória pessoal do Dr. Ricardo Tadeu. Mas, essa nomeação transcende em significados para toda a comunidade pois, nomeando-o, o Presidente também presta um testemunho veemente contra o preconceito. O mesmo preconceito que ainda atrasa a inclusão de milhares de cidadãos potencialmente produtivos à vida comunitária, à educação e ao trabalho.
Não tem sido diferente com quem foi atingido pela Póliomielite, nas décadas de 1960 e 1970. Muitos de nós, num tempo em que a falta de atenção do Governo e das instituições ocasionava todo tipo de dificuldades ao nosso cotidiano, chegaram a desistir de projetos importantes para o progresso pessoal. Muitos optaram por um exílio voluntário, tornando-se "invisíveis" para o Estado e para a própria sociedade.
Por isso, a tomada de posse do Dr. Ricardo Tadeu reveste-se dessa aura de superação do ranço que - em todas as variações da deficiência humana - deve ser banido da convivência social. O aval das instituições democráticas, através dos Poderes Constitucionais, vem para consolidar a inserção na sociedade através do reconhecimento da competência e da eficiência dos homens e mulheres com algum tipo de limitação. Afinal, somos todos possuidores de características diferenciais, detalhes que - na diversidade das etnias e procedências - constroem a pluralidade social.
O Brasil caminha para o reconhecimento mais amplo dos direitos e do potencial de seus cidadãos com deficiência. Contudo, será na promoção das mais prosaicas oportunidades - de educação, de atendimento à saúde, de trabalho, de acesso à cultura e ao lazer - que veremos atingido o objetivo da causa inclusiva. Que o gesto do Presidente Lula, cuja conotação nada tem de demagógica, possa inspirar muitas outras instâncias e gerar inúmeras oportunidades para pessoas de valor; deficientes ou não. Pois, se a Justiça hoje também é "cega", a sociedade não pode continuar "surda" e "muda" frente à inclusão plena.
J. Olímpio
Ninguém pode negar a tremenda vitória pessoal do Dr. Ricardo Tadeu. Mas, essa nomeação transcende em significados para toda a comunidade pois, nomeando-o, o Presidente também presta um testemunho veemente contra o preconceito. O mesmo preconceito que ainda atrasa a inclusão de milhares de cidadãos potencialmente produtivos à vida comunitária, à educação e ao trabalho.
Não tem sido diferente com quem foi atingido pela Póliomielite, nas décadas de 1960 e 1970. Muitos de nós, num tempo em que a falta de atenção do Governo e das instituições ocasionava todo tipo de dificuldades ao nosso cotidiano, chegaram a desistir de projetos importantes para o progresso pessoal. Muitos optaram por um exílio voluntário, tornando-se "invisíveis" para o Estado e para a própria sociedade.
Por isso, a tomada de posse do Dr. Ricardo Tadeu reveste-se dessa aura de superação do ranço que - em todas as variações da deficiência humana - deve ser banido da convivência social. O aval das instituições democráticas, através dos Poderes Constitucionais, vem para consolidar a inserção na sociedade através do reconhecimento da competência e da eficiência dos homens e mulheres com algum tipo de limitação. Afinal, somos todos possuidores de características diferenciais, detalhes que - na diversidade das etnias e procedências - constroem a pluralidade social.
O Brasil caminha para o reconhecimento mais amplo dos direitos e do potencial de seus cidadãos com deficiência. Contudo, será na promoção das mais prosaicas oportunidades - de educação, de atendimento à saúde, de trabalho, de acesso à cultura e ao lazer - que veremos atingido o objetivo da causa inclusiva. Que o gesto do Presidente Lula, cuja conotação nada tem de demagógica, possa inspirar muitas outras instâncias e gerar inúmeras oportunidades para pessoas de valor; deficientes ou não. Pois, se a Justiça hoje também é "cega", a sociedade não pode continuar "surda" e "muda" frente à inclusão plena.
J. Olímpio
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Matéria no Correio Brasiliense

Eliana C. Aquino
Síndrome pós-poliomielite gera complicações neuromusculares
Silvia Pacheco - Especial para o Correio
Publicação: 12/09/2009 07:05 Atualização: 12/09/2009 09:48
O Brasil praticamente esqueceu a poliomielite. Erradicou a doença, transmitida pelo poliovírus, em 1989. Hoje, pouco se escuta falar da paralisia infantil, a não ser nas campanhas anuais de vacinação contra a doença. O fantasma da pólio, no entanto, ronda pessoas que contraíram o vírus no passado. É a síndrome pós-poliomielite (SPP), uma disfunção neurológica, degenerativa e incapacitante, ligada à paralisia infantil. Ela se manifesta, em média, 15 anos depois de a pessoa ter contraído pólio, chega silenciosamente e é facilmente confundida com outras doenças.
Eliana teve pólio com 1 ano e três meses: aos 42, começou a sofrer com a SPP e foi obrigada a passar a utilizar um carrinho motorizado
A síndrome pode ser descrita como uma desordem do sistema nervoso motor. Ela está relacionada à sobrecarga dos músculos e das articulações (ver arte). Os neurônios motores sofrem uma espécie de esgotamento, devido ao grande trabalho que tiveram para recuperar movimentos do corpo perdidos com a infecção pelo vírus da pólio. Os sintomas mais comuns são fraqueza e dor muscular e articular, fadiga, insônia, além de novas dificuldades em realizar atividades diárias, principalmente as relacionadas com a mobilidade.
Segundo o neurologista e diretor do setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Acary Bulle, os indivíduos que tiveram pólio na infância, mesmo aqueles que não ficaram com sequelas aparentes, devem estar atentos. “Qualquer alteração nas atividades diárias que faça com que elas se tornem esgotantes, em que os músculos pareçam não aguentar o esforço feito antes, deve ser investigada”, alerta. Bulle chama a atenção também para sintomas como insônia, fadiga e quedas.
Um dos agravantes, porém, é justamente o desconhecimento dos profissionais da saúde em relação à doença. Frequentemente, seus sintomas são confundidos com estresse e depressão, o que faz com que o diagnóstico demore e a doença piore. A explicação mais plausível para esse desconhecimento é o fato de que a poliomielite, por ser uma doença erradicada no país, foi praticamente banida do currículo das escolas de medicina brasileiras. “Os médicos não estudam mais a pólio e, com isso, não há pesquisas sobre ela e sobre males relacionados”, diz Bulle.
Trinta hipóteses
Eliana de Aquino, 47 anos, esbarrou na falta de informação dos profissionais da saúde para diagnosticar a SPP. Ela teve paralisia infantil com 1 ano e três meses e ficou sem os movimentos da perna esquerda. Ainda criança, fez o programa de reabilitação para pacientes de pólio e com isso conseguiu ter uma vida normal. Em 2003, um simples ato diário mudou os rumos de sua vida. “Fui abrir uma porta e quebrei a perna sequelada em três partes. Achei aquilo muito estranho, mas segui em frente com a vida.”
Depois desse incidente, contudo, as atividades do dia a dia foram ficando mais difíceis. “Percebi que havia algo errado porque me sentia muito cansada. O simples ato de arrumar a casa estava ficando difícil”, lembra. Foi então que Eliana começou sua peregrinação em busca de uma explicação para o que estava acontecendo com seu corpo. “Os médicos achavam que era osteoporose, depressão. Fiz exames para afastar 30 doenças, até meu endocrinologista me encaminhar para o doutor Acary Bulle”, diz. O diagnóstico foi dado em 2007, quatro anos depois das fraturas.
Para aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, Eliana teve que reavaliar sua rotina, a começar por sua locomoção. A servidora do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) também precisou se aposentar. “É importante entender que a SPP é uma doença neuromuscular, portanto a ordem para os pacientes é economizar energia muscular para não cansar ainda mais os neurônios debilitados”, explica o neurologista Acary Bulle. Para tanto, Eliana adotou um carrinho motorizado a fim de se locomover.
Entre outras formas de minimizar os sintomas da SPP, estão atividades feitas dentro da água. “A orientação é de que os pacientes façam exercícios somente na água. Os indicados são hidroterapia em piscina aquecida e temperatura controlada, pois quem sofre da síndrome também tem intolerância ao frio”, afirma o neurologista.
Sintomas agravados
Foi justamente a intolerância ao frio que deu o sinal de alerta a Roberto Medeiros, 57 anos. O professor teve pólio com 5 anos e ficou com uma sequela na perna direita, mas nada que o atrapalhasse ou o deixasse dependente. Quarenta anos depois, porém, um incômodo durante o banho começou a se tornar frequente. Medeiros sempre gostou de tomar banho frio e isso começou a se tornar um problema. “Era terrível entrar na água fria, meu corpo, minhas articulações doíam muito. Ficou insuportável”, conta. Em seguida começaram as quedas. A perna do professor não suportava o peso e fazia com que ele perdesse o equilíbrio e caísse. “Meu joelho dobrava sem meu comando”, diz. Medeiros conta que os sintomas foram se agravando e outros foram aparecendo. Insônia, dificuldade de concentração, dores de cabeça pela manhã faziam parte da vida diária do professor. “Não achava uma relação entre esses sintomas. Eram fatos soltos, mas que estavam tornando minha vida um problema.”
O professor achou que pudesse ser poliomielite novamente e buscou ajuda em um hospital de Belo Horizonte. Lá, foi submetido ao tratamento de reabilitação recomendado para pacientes com pólio. Faziam parte do programa natação e exercícios em academia para fortalecer os músculos. Tudo o que Medeiros não deveria fazer. Como resultado, os sintomas se agravaram de tal forma que era insuportável fazer qualquer atividade física. “Os profissionais da saúde são completamente desinformados. Eles não faziam ideia do que estava acontecendo comigo. Minha perna direita estava paralisada e eles me mandavam fazer mais atividades.”
Foi então que o professor tomou conhecimento do estudo feito sobre a SPP na Unifesp e resolveu procurar outra forma de ajuda. Medeiros fez exames neurológicos e foi diagnosticado com a SPP. Devido a essa situação que ambos viveram, Eliana e Roberto — com o Núcleo de Doenças Neuromotoras da Unifesp — lutam para criar, em parceria com o Ministério da Saúde, cursos capacitantes para profissionais de saúde.
Doença é nova
A SPP é classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como nova. Seu Código Internacional de Doença (CID) só foi divulgado em 2008, mesmo tendo o primeiro caso diagnosticado em 1875. O reconhecimento só foi possível nos anos 1980, quando surgiram trabalhos científicos nos Estados Unidos. No Brasil, existem poucos estudos sobre o mal, mas o número de pacientes com queixas relacionadas aos sintomas da SPP vem aumentando.
Em 2002, o neurologista e diretor do setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Acary Bulle, ficou intrigado com as constantes queixas de pacientes que tiveram paralisia infantil. Eles apresentavam novos problemas musculares e de cansaço. “Achava tudo aquilo estranho, pois eles haviam se reabilitado das sequelas da pólio. Algumas eram até competidores físicos e estavam perdendo os movimentos, a força.” O médico, então, pesquisou a literatura médica e encontrou relatos parecidos.
Em 2002, o ambulatório de Doenças Neuromusculares da Unifesp fez uma pesquisa com 52 sobreviventes da pólio. De 2003 a 2004, foi realizada outra, com 167 pacientes. Ambas constataram que cerca de 60% dos indivíduos tinham os sintomas da síndrome pós-pólio. “A pólio era uma coisa resolvida, por isso não havia preocupação. Depois dessas pesquisas, fomos levados a estudar profundamente a SPP”, lembra o neurologista. Hoje, apenas a Unifesp é referência, no Brasil, no atendimento aos pacientes que sofrem desse mal. “São 870 que atendemos no centro. Mas creio que mais pessoas tenham a SPP e não façam ideia disso”, diz Bulle.
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